Transitando entre o coletivo e o íntimo, Caroline Valansi traz, em sua produção, questionamentos sobre a representação da sexualidade feminina através de sua pesquisa em filmes pornográficos e imagens encontradas na internet com a intervenção de suas próprias fotografias, colagens e desenhos.
Em entrevista para a série Tropix Talks, a artista abre as portas de seu atelier no Rio de Janeiro e compartilha conosco mais detalhes sobre sua pesquisa e seus processos criativos.
Natural do Rio de Janeiro, Caroline Valansi formou-se em Cinema pela universidade Estácio de Sá em 2004, mas sua história com a sétima arte começou muito antes.
Sua família, quando chega ao Brasil, tem um papel importante na criação de cinemas de rua que até os anos 80 exibiam filmes de arte e produções europeias. Porém, com o passar do tempo, estas salas deixam de ser usadas e os clássicos estrangeiros dão espaço ao pornô brasileiro.
Tendo este como um de seus pontos de partida, Valansi, com sua pesquisa, nos convida a observar este momento histórico com as evidências deixadas para trás na forma de cartazes e filmes 35mm. “Os cartazes pornôs são uma obra de arte, mas uma obra de arte de outra época, totalmente fora de contexto hoje em dia”, nos conta ela.
A partir de um acervo de cartazes de filmes pornôs, ela começa a questionar o lugar em que a mulher se encontra nessas narrativas, além das questões estéticas dos objetos em si. “São cartazes machistas onde a mulher está sempre num lugar de objeto, quem comanda as cenas são os homens… e isso começou a me incomodar”, prossegue a artista
Foi este incômodo com o lugar da mulher e a representação da sexualidade feminina no meio pornô que a levou a criar a série “Pornografia Política”. Nela, Valansi usa da ironia para tecer comentários sobre a inusitada intercessão entre o pornô e a política.
Em entrevista para o Tropix Talks, enquanto elabora em torno dos caminhos de sua pesquisa, a artista começa a trabalhar no recorte de um dos diversos cartazes de seu acervo. Esse material, que se transforma com cada movimento da tesoura, é o que Valansi chama de “peles”, onde as sobreposições geradas pelos recortes se juntam para ressignificar os objetos. O resultado são obras onde o papel não está mais chapado contra uma superfície, mas sim possuem corpo e movimento, assim como nos filmes pornôs e nas relações humanas.
Apesar de sua história com a produção “analógica” e o apreço pelo tátil, a artista observa de que maneira o aspecto virtual permeia seus trabalhos, mesmo obras físicas, e comenta: “o computador é realmente uma ferramenta hoje em dia, não só para mim mas para a maioria dos artistas”.
Sua transição para este novo espaço de obras com certificação NFT partiu de uma curiosidade, como uma forma de entender esta nova mídia. Assim, combinando seu acervo analógico com a enorme disponibilidade de conteúdos na internet, Valansi leva essa intersecção entre o público e o íntimo para a blockchain.
Seu primeiro drop com a Tropix surgiu pela inquietação causada pela recente pandemia, inspirada pelo aumento significativo no consumo de pornografia devido aos lockdowns. A série lançada, que consiste nas peças Zona Franca 1, Zona Franca 2 e Zona Franca 3, faz uso de efeitos glitch, capturando o olhar do espectador ao construir e desconstruir os corpos recortados.

Já as obras de sua coleção mais recente, Cena Rosa, Cena Azul e Cena Laranja fazem parte da série MetaSexo. Nesta, a artista intervém em imagens retiradas de sites pornô e as transforma a fim de ressignificar o olhar do público, que se atém pelas novas cores e formas e não apenas pelos corpos neles existentes.
Usando de diversas linguagens artísticas, Caroline Valansi cria essa interseção entre o passado e o presente para além do incômodo latente do momento histórico e alcança, assim, uma forma que tanto questiona quanto e ressignifica temas que continuam tão relevantes em nossa sociedade.
Acompanhe essa visita ao atelier de Caroline Valansi e assista a entrevista na íntegra no canal da Tropix no Youtube: