Apesar de ter surgido em meados de 2014, os NFTs (token não-fungíveis) se tornaram populares no universo cripto apenas no ano de 2017 – e foi apenas em 2019, que essa inovação digital tomou uma proporção para além de seu ambiente de origem.
E, se por um lado, a economia cripto no mundo da arte oferece diversas possibilidades a uma nova geração de artistas, nativos digitais, entenderem a circulação e comercialização de seu trabalho para além do mercado tradicional, por outro, também potencializa o trabalho de artistas já estabelecidos de diversas gerações.
Eduardo Kac
É quase impossível definir a prática do artista Eduardo Kac a partir das mídias que utiliza. Multidisciplinar, incorpora performance, instalação e mesmo poesia em sua pesquisa. Por sua natureza experimental e questionadora, pouco surpreende que Kac seja um dos poucos artistas com carreira estabelecida que estejam utilizando o NFT para registrar seus trabalhos digitais.
Este ano, o artista participa da Bienal de Veneza, considerado o mais importante evento de arte de todo o planeta, no Pavilhão do Camarões, que é dedicado exclusivamente à criptoarte.
Giselle Beiguelman
A produção da artista, professora e pesquisadora Giselle Beiguelman se confunde com a própria história da arte digital na América do Sul. Pioneira, Beiguelman vem provocando um pensamento crítico em torno dos avanços tecnológicos no Brasil com um viés especialmente associado ao discurso político destas relações.
Por essa razão, a certificação em NFTs de produção, que já era em grande parte digital, é um caminho natural tanto conceitualmente quanto materialmente. Na série Distópica, por exemplo, a artista desconstrói a percepção semiótica que temos de praia, um dos cenários idílicos dos trópicos, para construir um paralelo entre o lixo eletrônico produzido nos últimos tempos, tanto digital como plasticamente.
Gretta Sarfaty
Muito antes de as selfies dominarem nossos feeds, a artista Gretta Sarfaty já estava questionando a representação do corpo feminino através de auto-retratos e trabalhos de vídeo na década de 1970. Muitas destas imagens, aliás, compõem o livro “Auto-photos” que hoje faz parte da coleção de importantes bibliotecas no mundo como o Tate, em Londres, o MoMA, em Nova York, e o MAC-USP, em São Paulo.
Atenta à evolução das mídias digitais desde a popularização da fotografia no mundo da arte, Sarfaty lançou em 2022 seu primeiro trabalho em NFT, seguindo sua histórica pesquisa de cunho feminista.
Jon Rafman
Um dos precursores do que convencionou chamar arte pós-internet, o canadense Jon Rafman é um dos artistas mais reconhecidos desta geração. Ao longo de sua carreira, que se iniciou na internet, construiu uma prática sólida, especialmente apresentando vídeo instalações imersivas que discutem a utilização das redes mundiais nos dias de hoje
Representado por diversas galerias, entre elas a Sprüth Magers, uma das maiores de todo mundo, Rafman é bastante ativo no universo dos NFTs, tanto como artista como colecionador. Além de uma série de trabalhos lançados em 2021, todos vendidos, o artista também mantém uma pequena coleção de trabalhos adquiridos de outros artistas.
Lucas Samaras
Da Polaroid ao NFT, hoje aos 85 anos e representado pela Pace Gallery, uma das mais importantes do mundo, Samaras já trabalhava com a arte que é considerada digital mesmo antes de ela ser associada às artes plásticas.
Em sua série de critpoarte intitulada XYZ, além da certificação em NFT, os colecionadores que adquiriram os trabalhos também receberam um versão física do trabalho em um gesto que amplia as possibilidades do pensamento da arte feita com aparatos tecnológicos ao mesmo tempo em que evidencia o quão esta produção artística é compatível com o mundo da arte que conhecemos.
Grimes
Conhecida especialmente por sua música experimental, muito influente na última década para toda uma geração de artistas, Grimes, na verdade, é uma artista visual à frente de seu tempo. Além de sua música e da direção da maioria dos seus clipes, a artista também tem um robusto corpo trabalho em outras mídias como desenho e a ilustração, com forte presença no universo digital da arte mesmo antes de sua popularização.
Não por um acaso, muito da popularidade dos NFTs no mundo da arte é atribuída a artista que foi destaque especialmente pelo engajamento social de suas vendas e os records de preço que algumas transações alcançaram.